Monday, December 11, 2006

Ode Maritima (A. Campos)

Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma, e dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.
Os paquetes que entram de manhã na barra trazem aos meus olhos consigo o mistério alegre e triste de quem chega e parte. Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
doutro modo da mesma humanidade noutros portos.Todo o atracar, todo o largar de navio,
é, sinto-o em mim como o meu sangue inconscientemente simbólico, terrivelmente ameaçador de significações metafisicas que perturbam em mim
quem eu fui......

3 comments:

  1. Ah, quem sabe, quem sabe,
    Se não parti outrora, antes de mim,
    Dum cais; se não deixei, navio ao sol
    Oblíquo da madrugada,
    Uma outra espécie de porto?
    Quem sabe se não deixei, antes de a hora
    Do mundo exterior como eu o vejo
    Raiar-se para mim,
    Um grande cais cheio de pouca gente,
    Duma grande cidade meio-desperta,
    Duma enorme cidade comercial, crescida, apoplética,
    Tanto quanto isso pode ser fora do Espaço e do Tempo?

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  2. Eu sei que o fim do ano serve quase sempre para passar em retrospectiva o ano que acaba.
    Pensar nas coisas boas e menos boas, aprender com os erros e avançar.
    Mas estamos um pouco nostálgicos ou é impressão minha?

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  3. só mais um pouco...


    Ah, a frescura das manhãs em que se chega,
    E a palidez das manhãs em que se parte,
    Quando as nossas entranhas se arrepanham
    E uma vaga sensação parecida com um medo
    - O medo ancestral de se afastar e partir,
    O misterioso receio ancestral à Chegada e ao novo -
    Encolhe-nos a pele e agonia-nos,
    e todo o nosso corpo angustiado sente,
    como se fosse a nossa alma,
    uma inexplicavel vontade de poder sentir isto doutra maneira:
    Uma saudade a qualquer coisa,
    Uma perturbação de afeições a que vaga pátria?
    A que costa? a que navio? a que cais?
    Que se adoece em nós o pensamento,
    e só fica um grande vácuo dentro de nós,
    Uma oca saciedade de minutos marítimos,
    e uma ansiedade vaga que teria sido tédio ou dor
    Se soubesse como sê-lo...

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