Monday, December 12, 2011

Deslumbramento...

Tempo..Súbito.....Espera..Urgente.....Calma..Fogo.....Desejo..Distância....Sexo..Medo....Amor..Mágoa....Escrita..Alívio

Necessidade..Nada.


Necessidade..
Funcionamos na base da necessidade..e as relações humanas são codificadas num registo semelhante.
Resultam da necessidade um do outro e em um e no outro..

Da necessidade do ter e ser, do toque da pele quente e suada de cada um dos dançarinos que balançam neste tango estonteante, que é a doença chamada amor.
Necessidade da cumplicidade efémera e descomprometida, da paixão, do amor e do desejo..da partilha das alegrias e das dores..das dúvidas e das certezas..
Necessidade da partilha de sons, músicas, melodias que a dois se tornam numa sinfonia de dimensões explosivas..

Necessidade daquele calor..que só dois seres unidos por algo mais que mera atração conseguem emanar a cada abraço ou beijo delicado..

Necessidade de baixar as defesas erguidas que escondem à muito almas danificadas e magoadas..e que juntas procuram curar-se num ritual de simbiose espiritual..

Necessidade de partilha de gritos de raiva e dor, de choros soluçantes e incontidos no ombro do anjo que nos suporta e nos eleva, e que sempre nos ajuda a reerguer a cada queda ou vazio que nos tolhe o animo e a esperança.

Necessidade de crescer um no outro..um com o outro..um para o outro.
Necessidade de aprender de amar e sentir-se amado.
Necessidade de ser e ter..

Necessidade..
Sem ela, o nada surge..




MCB

Friday, October 21, 2011

AGUARELAS


Imaginemos uma tela...
uma tela em branco

Imaginemos uma paleta de cores vibrantes entre outras menos efusivas..
e imaginemos um pintor em pé, diante de uma janela com vista para o mundo, todo ele comprimido numa só paisagem.
Que cores podem definir o mundo?
Haverá paleta suficientemente grande para suportar todas as suas cores? todas as suas nuances, reflexos, brilhos..todos os por-do-sol, luares, todos os mares, montanhas e tons de verde nascidos das suas florestas e bosques? todas as cores do outono e primavera, do Inverno e do verão? cores de rostos, olhos, mãos e sorrisos...

Não duvido que com paciência e com um dom não ao alcance do comum dos mortais, o melhor dos mestres conseguirá, em algumas vezes, roçar a perfeição no seu intento e aventura, porque tal atrevimento em pintar o mundo, não deixa de ser uma aventura...com destino incerto ...
Outras no entanto, revelam-se demasiado intrínsecas, densas e pastosas para o mesmo dom indigo...

As cores humanas..
Que cor tem um abraço que se precisa? que cor tem o toque quente da pele contra outra?
Que cor tem um sorriso? ou um beijo? que cor tem o doce toque dos lábios?
Que cor pintar numa saudade, num desejo ou num sonho?
Com que cor pintar a dor?  a alegria, a tristeza e a frustração?

Com que cor pintaremos na tela a nossa traição diária, quanto procuramos na materia as drogas que nos façam distrair da dor que simplesmente viver por vezes traz..
Que cor pintar, quando a verdade depois de dita não importa, e nos arrefece o coração..





A pintura é poesia sem palavras..

Thursday, August 18, 2011

Que queremos da vida? Que aconteça ou que a façamos acontecer? Se acontece, queixamo-nos da sorte e do destino (em que acredito apenas depois de acontecer)..se a fazemos acontecer arriscamo-nos a culpar-nos por opções erradas, precipitadas ou erradamente fundadas, e que nos atormentarão indefinidamente.

A vida acontece..e o que fazemos dela também.Invariávelmente.Fatalmente.

Ás vezes temos momentos de paz..Infelizmente, só lhes damos o devido valor depois de passarem. Quando os vivemos nem nos apercebemos que estamos lá.
A sabedoria penso, está em reconhecer esses momentos, e na capacidade os agarrar no tempo devido...
Momentos que nos fazem falta e que inevitavelmente lamentaremos, uma ou outra vez não lhes termos dado o valor que merecido e necessário para o nosso bem estar..

Saturday, June 11, 2011

Lost In Translation

Existe aquele ditado oriental que diz, que quando estivermos prontos, o Mestre aparece.

Tal é verdade não só para coisas do espírito.
Aquela música que nada nos dizia, aquele filme que não tinha pés nem cabeça, aquela pensamento, poema ou soneto que a determinada altura nada acrescentava e agora, de um  momento para o outro revela-se de uma forma quase assustadora como resumo do nosso dia a dia.

Coloca-nos em perspectiva e dá-nos horizontes..metas e paralelismo.

...Como chegamos onde chegamos..ao que sentimos vivemos..aprendemos e crescemos.

Contra todas as probabilidades, tudo nos acontece como marionetas num filme..perdidos em Tóquio ou numa qualquer cidade bem mais perto...Medos desaparecem para logo surgirem ao virar de cada esquina, certezas perdidas na duvida, na mente no corpo e na consciência..
Quanto mais conheço e mais sinto, reconheço que o Céu e o Inferno existem..e que sim! ambos podem ser terrenos...e Deusa (s) também.
"Todos queremos ser encontrados.."

Lost In Translation

Diz aquele ditado oriental que quando estamos prontos, o Mestre aparece.

Friday, March 04, 2011

Fernando Pessoa e o suícidio

Se te queres matar, porque não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por actores de convenções e poses determinadas,
O circo polícromo do nosso dinamismo sem fim?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!"

"Fazes falta?
Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar..."

"A mágoa dos outros?...
Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é a coisa depois da qual nada acontece aos outros...

"Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além..."

"Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia..."

"Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste;
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti."

"Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência!...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?"

"Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?"

"És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjectividade objectiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?"

"Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido?
O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?"

"Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente:
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células nocturnamente conscientes
Pela nocturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atómica das coisas,
Pelas paredes turbilhonantes
Do vácuo dinâmico do mundo..."